Produtores recebem apoio de especialistas para produzir frutas nativas no Ribeirão Grande
No dia 22 de maio, comemoramos o Dia Internacional da Biodiversidade. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de se conservar e proteger a diversidade de vida no planeta. Em Pindamonhangaba um grupo de produtores rurais participam de uma rede que promove o cuidado de nossos biomas, por meio dos Sistemas Agroflorestais. No bairro do Ribeirão Grande, há o plantio de frutas da mata atlântica e da palmeira juçara, considerada a espécie mais vulnerável no quadro de mudanças climáticas.
Antonio Carlos Pries Devide, engenheiro agrônomo e pesquisador da APTA, é um dos coordenadores do projeto que incentiva o plantio de SAF- Sistema Agroflorestal no bairro do Ribeirão Grande e explica a importância da palmeira juçara para a biodiversidade local. “ A palmeira juçara é a base alimentar de diversas aves e pequenos mamíferos. Se pensarmos na cadeia alimentar, seu papel é importante para dar estabilidade a essa cadeia. Assim, o nosso foco em 2021 foi levantar áreas que já tinham palmeira juçara em produção e trabalhar em mutirões agroflorestais para implantarmos novas áreas. Isso foi feito em 2022, com 10 novas áreas implantadas e diversas outras mapeadas com palmeira juçara em produção”, salienta.
O SAF do Ribeirão Grande faz parte da Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, que tem o objetivo de disseminar os SAFs na região. “Esse projeto visa fortalecer essa Rede, que inclui na sua formação muitos agricultores familiares, produtores rurais, novos rurais (gente que veio da cidade para empreender no campo), técnicos, pesquisadores e outras tantas pessoas”, explica o pesquisador.
Especialista em Gestão Ambiental de Sistemas Agrícolas, Antonio salienta que na APTA – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo de Pindamonhangaba, há uma unidade de pesquisa em SAF com dois pesquisadores trabalhando para dar suporte ao projeto. “Por meio de encontros, oficinas e discussões; a ideia, neste momento, é fomentar o cultivo de algumas espécies de interesse, com ênfase nas frutas nativas, tais como a palmeira juçara nativa da Mata Atlântica (que substitui o açaí da Amazônia), o cambuci , araçá amarelo, fruta do conde, uvaia, cambucá e outras espécies”, comentou.
Marcelo Rebellato, proprietário do sítio Pedra do Caboclo, participa do SAF do Ribeirão Grande e começou pensando na questão ambiental. “Como estamos em uma APP – Área de Proteção Permanente, queríamos algo que possibilitasse o reflorestamento na mata ciliar de um riacho que passa no fundo da propriedade. Além das frutas da mata atlântica que já existiam no local, foram plantadas a bananeira, abóbora e feijão de corda para alimentação; mamona, feijão de porco e gliricídia para adubação verde e outras espécies de frutas nativas, tais como uvaia, araçandiba, cambucá, cabeludinha, araçá amarelo e juçara. Acredito que seja uma excelente estratégia para contribuir com a biodiversidade local”, ressaltou. Marcelo ainda contribuiu fazendo a doação de sementes de araribá, que foram plantadas por outros produtores, que também participam do SAF. O araribá é uma árvore leguminosa nativa que restaura os solos porque realiza a fixação biológica do nitrogênio com as bactérias do gênero rizóbio, além de produzir uma madeira de altíssima qualidade.
“Começamos a participar do projeto, pois entendemos que a diversidade é fundamental para a continuidade da vida. Plantamos algumas coisas só para consumo próprio como banana, batatas, abóboras, urucum e diversas ervas medicinais e aromáticas; além de frutas nativas. Em três anos já percebemos o aumento de aves, por conta também do aumento de vegetação”, comemora Rita de Andrea Gomes, proprietária do sítio Pé do Mulungu.
De acordo com o especialista, os sistemas agroflorestais abrangem uma ampla forma de uso da terra, em uma mesma unidade de produção, integrando culturas alimentares com criações animais e os componentes arbustivos e arbóreos. Cada unidade de produção pode adotar uma diversidade de sistemas agroflorestais, cada um com um foco diferente e de acordo com o objetivo dos produtores, a aptidão do solo e da paisagem. “No entorno das moradias pode-se criar um sistema agroflorestal chamado de quintal agroflorestal ou homegarden, partindo de canteiros com plantas alimentícias, medicinais e condimentares, consorciados ao acaso com pomar com diversidade de frutíferas com ênfase nas espécies nativas. Tem SAF que no início se cultivam culturas anuais e frutíferas de ciclo curto no meio da plantação de árvores para madeira. Tem modelos de SAF biodiverso em que o objetivo é restaurar e proteger a mata ciliar. Assim, ganha o meio ambiente, que precisa da beira de represas, ribeirões e rios preservados com vegetação nativa e, também, o produtor rural, que pode colher nessas áreas os frutos produzidos por árvores e palmeiras nativas”, explica.
Outro modelo de SAF é o chamado de agricultura sintrópica, com diversidade de plantas comestíveis, frutíferas, arbustivas e arbóreas para poda e madeira. “Assim, um sistema agroflorestal nunca estará pronto, pois o manejo é contínuo. Mas, são resilientes no advento das mudanças do clima. Mesmo que caia uma chuva forte ou uma seca prolongada prejudicando alguns cultivos, outros, mais resistentes, conseguirão ainda ser colhidos na mesma área”, conclui.
Vale ressaltar que a APTA inaugurou, recentemente, uma cozinha experimental de apoio às pesquisas e para trabalhos de formação de produtores no manuseio de PANCs – Plantas Comestíveis Não-Convencionais e frutas nativas. “As PANCs são fundamentais no preenchimento dos estratos nos SAFs. Tem PANC que tolera a sombra, como a cúrcuma e o açafrão, que ajudam a cobrir a terra e a controlar o mato indesejável, reduzindo a necessidade de capina; tem PANC arbustiva que ajuda na fixação de nitrogênio e ainda produz alimento, como o feijão guandu; tem PANC trepadeira que sobe nas árvores, como a bertalha, cunhã e o cará moela. Assim, é possível preencher todos os espaços dos SAF com as PANCs e obter o máximo benefício em termos de biodiversidade e reforço à segurança alimentar e nutricional”, conta Cristina Castro, que também é pesquisadora da APTA e doutora em solos.
Em paralelo, os pesquisadores desenvolvem oficinas para promover o aprendizado coletivo dos produtores. A utilização do espaço da APTA deve ser agendada com antecedência.
O projeto desenvolvido em Pindamonhangaba visa fortalecer a Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba e conta com o apoio da Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba e da empresa Dupont.
Fotos : Aldo Barreto/ Rita de Andrea Gomes, Marcelo Rebellato e Antonio Carlos Pries Devide
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